domingo, 26 de maio de 2013

Da Arca do Tesouro

Pintura: Édouard Manet e o retrato de Émile Zola (1868)



O pintor: O verdadeiro talento de Édouard Manet só desabrocha quando ele rompe com os estudos acadêmicos e parte em viagem pela Europa para copiar os grandes mestres. Em 1861, um retrato de seus pais abre as portas de um salão menor. Mas logo em seguida o escândalo e um rótulo: com “Almoço na Relva” e “Olympia”, ele se torna um “pintor não frequentável”. Amigo dos impressionistas, sofre a influência do grupo mas preserva seu próprio estilo. Berthe Morisot, que será sua cunhada, é sua aluna e mestra, os dois se influenciam mutuamente. De 1876 em diante, está quase sempre hospitalizado. Mas pinta sem parar. Em 20 de abril de 1883 tem a perna esquerda amputada e morre dez dias depois. A ironia do destino: Manet, cujas obras foram objeto de deboche e zombaria e que custou a ser aceito pela academia e pelo público, foi o primeiro pintor moderno a ser aceito no Louvre, então a catedral da pintura acadêmica, com “Olympia”, hoje no Museu d’Orsay.

O retrato: Émile Zola escreveu um artigo para a Revista do Século XX declarando que Manet seria um dos mestres do futuro e defendendo o artista das acusações que lhe faziam. Dizia mesmo que seu lugar era no Louvre. Manet, agradecido, pinta o retrato do escritor, polemista e jornalista. O quadro foi feito no estúdio de Manet e o cenário montado de acordo com a personalidade e os gostos do retratado. Na parede, uma reprodução do “Olympia”, quadro defendido por Zola; o “Baco” de Velásquez e uma gravura japonesa completam a decoração. Ele está sentado em uma escrivaninha e segura nas mãos um livro, provavelmente “A História dos Pintores”, de Charles Blanc, livro muito consultado por Manet. Na mesa, uma pena e um tinteiro, testemunhos do ofício do retratado. Óleo sobre tela, 146 × 114 cm.

Émile Zola nasceu em 10 de abril de 1840, em Paris, filho de um engenheiro de origem veneziana, Francesco Zola, e de Émilie Aubert. Órfão de pai aos sete anos, morou em Aix até perto dos 17, enfrentando dificuldades cada vez maiores, pois a família foi enganada por especuladores que se apoderaram da empresa do canal construído por Zola, pai. Isso marcou um revoltado Zola. No colégio trava amizade com Paul Cézanne que sonhava em pintar com o mesmo ardor com que ele sonhava em escrever. Duas personalidades que marcariam seu século e a cultura francesa, colegas de banco de escola na provinciana Aix-em-Provence! Zola é o primeiro a romper barreiras e em Paris se torna escritor de renome e jornalista conceituado.

É dele o texto considerado como manifesto literário do movimento naturalista, “O romance experimental” (1880). “Thérèse Raquin”, seu primeiro romance, apresenta inúmeras inovações do naturalismo. Seu outro grande projeto foi “Os Rougon-Macquart”, a saga de uma família do qual faz parte aquela que é considerada sua maior obra, “Germinal”. Apesar de sua qualidade literária, nunca integrou a Academia Francesa, para a qual se candidatou nada menos que 24 vezes.

Sua fama se deve ao célebre J’Accuse (Eu Acuso), que publicou em 1898, no jornal literário L’Aurore, em defesa do capitão Alfred Dreyfus, onde tornou evidente o que mais tarde viria a provar definitivamente a inocência de Dreyfus. Seu artigo foi tão impactante que levou a uma revisão do processo que só terminaria quatro anos depois de sua morte, com a reabilitação, em 1906, do oficial injustamente acusado de traição.

Zola morreu em 29 de Setembro de 1902, asfixiado, em seu apartamento de Paris. Na ocasião, a polícia declarou que fora um acidente ocasionado por escapamento em uma chaminé. Alguns choraram, outros aplaudiram. Zola era então, e desde muito tempo, objeto de admiração apaixonada ou de ódio irrefreável, por motivos literários, morais e políticos. Consta que isso não o desagradava.

Foi enterrado no cemitério de Montmartre em Paris e suas cinzas foram transferidas para o Panthéon em 1908, dois anos depois de Dreyfus ter sido reabilitado.

Acervo Museu d’ Orsay, Paris

Fontes  
http://www.musee-orsay.fr/ 
http://pt.wikipedia.org/wiki/ 

Larousse


Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa (09/10/2009)
Da série Obra-Prima do Dia, publicada originalmente no Blog do Noblat 

Um comentário:

  1. Rubi, o dia em que eu não comentar na 'Obra-Prima' não significa que não a li.
    Amo! Era uma das mais incríveis seções do blog do Noblat. Na verdade, seu grande diferencial.
    Bom que agora está em mãos de sua pesquisadora, editora...

    Beijocas!

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