domingo, 26 de maio de 2013

Palavrinha

No dia 1º deste ano comentei com uma amiga que tinha achado este ano com cara de macaco... E ela: De macaco? Não dá para ser de macaquinho? São tão bonitinhos os filhotes! E eu: Não, com cara de gorilão feio mesmo.

Acabamos rindo da minha besteira e pronto, assunto encerrado.

Mas assim como certos preconceitos que tentamos afastar da cabeça insistem em se mostrar verdadeiros, o ano não começou muito simpático, não.

Tragédias de todo tipo, violência, brutalidade, a natureza muito zangada, crianças sofrendo.

Ontem, ao ver na TV um policial falando de como encontraram a filhinha de um ano do casal assassinado em SP, não resisti e desliguei a TV. Peguei um dos livros que uma boa amiga me enviou e fui me sentar com ele em minha poltrona, a Benta. No início, era Dona Benta, tal qual a avó dos meninos do Sítio. Depois, com a intimidade, virou Benta.

É uma amiga e tanto, a Benta.  Ela foi decorar meu quarto quando nos mudamos, em junho de 1949, da Lagoa para o Leblon. E nunca mais me abandonou - com exceção de épocas em que morei fora do Brasil, pois até para o Recife ela foi!

Já virei noites sentada nela com meu bebê no colo; quase todos os livros que li, ou pelo menos a grande maioria, foi nela; já chorei e ri muito naquele verdadeiro abrigo em que ela se tornou; já sonhei acordada nessa verdadeira amiga. E já 'despertei' ali também...

Graças a Deus, meu filho nunca a pediu para ele pois, se pedisse, a ele eu não diria não, mas que ia sofrer sua ausência, ia.

De vez em quando ela baixa estaleiro. Já foi lisa, listada, xadrez, de flores, como agora. E está de novo precisando de uma repaginada geral. Mas com esse ano amacacado, quem é que diz que eu tenho coragem de me separar dela? Ela vai ter que esperar...

E quando for para o estaleiro, hei de querê-la lisa de novo, azul-hortênsia. Está prometido, Benta.



4 comentários:

  1. Texto tão delicado quanto as hortênsias da foto.

    Deixo aqui um abraço para a Benta e aguardo uma foto dela novinha em folha (de hortênsia) quando voltar do estaleiro. Depois do ano amacacado, é claro!
    (Aqui em casa as coisas também têm nome.)

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  2. Sabem que eu, no horóscopo chinês, sou "macaco"?
    Pois é, nem eu sabia, quando a mãe de uma cunhada me presenteou com todos os bichinhos que compõem a minha família: eu, marido e filhos.
    Para dizer a verdade, não lembro qual bicho cada um é, mas o tal do ano do "macaco" ficou entranhado na minha mente. Diz ela que é um "bicho bom" no tal horóscopo :)
    Também tenho uma cadeira só minha. Mas não batizei, é "a minha poltrona", e aqui em casa todos sabem disso, punto e basta!

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  3. Ah, essas poltronas que nos acompanham... A minha vem da infância, acredita, Rubi?

    Que a Benta ainda a aconchegue por muito tempo, que lhe proporcione ótimas ideias, decisões, sonhos...

    Beijocas!

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  4. Ah, Maria Helena, esses objetos que nos acompanham pela vida e vão se impregnando de nós, e se impregnando em nós...

    Benta é você, você é Benta.

    E o ano está mesmo de maus bofes.

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