sábado, 22 de junho de 2013

A manhã de um novo amanhã

  Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto




Como nesta obra-prima de João Cabral os nossos meninos usaram a Internet para lançar seus gritos: ninguém sabe de quem foi o primeiro grito, o que sabemos é que a esse outros se juntaram e formaram uma onda tênue como a manhã do poeta, que foi se encorpando à medida que outros meninos foram chegando e unidos ergueram uma tenda de tecido aéreo, sim, outra vez lembro o poeta, mas era preciso que fosse aéreo para poder percorrer e cobrir todo o nosso Brasil.

Essa tenda, aérea, sem armação, não acolhe os que vivem de intrigas e malfeitos.

Ali só os que ainda não pisaram o chão dos palácios e os que sonham com os fios da liberdade, da justiça, da misericórdia, da esperança, da honra e do dever para tecer a manhã ensolarada de seu amanhã:

liberdade para expressar o que sentem e exigir o que lhes é devido;

justiça para que todos gozem dos mesmos direitos;

misericórdia para ajudar os incapazes e fortalecer os deficientes;

esperança para nunca deixar de enviar o grito que convoca a união cada vez que isso se torne necessário;

honra em respeitar o país e seu patrimônio, que é de todos;

dever de para sempre lembrar que como a tenda é de todos e para todos, é vital mantê-la para sempre afastada dos marginais.

Mas falta uma palavrinha aí: organização. A teia formada pelos gritos dos meninos precisa ter quem a organize e zele por sua existência. Nada funciona sem ordem e regras que devem ser cumpridas. O contrário é a anarquia. E anárquica, a nova manhã em breve virará a noite da qual jamais sairemos. 


por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Publicado originalmente no Blog do Noblat em 21/06/2013

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