quarta-feira, 19 de junho de 2013

Para a Hora do Chá


A mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa 
Seu dorso frio é um campo de lírios 
Tem sete cores nos seus cabelos 
Sete esperanças na boca fresca! 
Oh! como és linda, mulher que passas 
Que me sacias e suplicias 
Dentro das noites, dentro dos dias! 

Teus sentimentos são poesia 
Teus sofrimentos, melancolia. 
Teus pelos leves são relva boa 
Fresca e macia. 
Teus belos braços são cisnes mansos 
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas 
Que vens e passas, que me sacias 
Dentro das noites, dentro dos dias! 
Por que me faltas, se te procuro? 
Por que me odeias quando te juro 
Que te perdia se me encontravas 
E me encontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas? 
Por que não enches a minha vida? 
Por que não voltas, mulher querida 
Sempre perdida, nunca encontrada? 
Por que não voltas à minha vida 
Para o que sofro não ser desgraça? 
Meu Deus, eu quero a mulher que passa! 

Eu quero-a agora, sem mais demora 
A minha amada mulher que passa! 
Que fica e passa, que pacífica 

Que é tanto pura como devassa 
Que bóia leve como a cortiça 
E tem raízes como a fumaça.


Vinícius de Moraes

Nenhum comentário:

Postar um comentário