domingo, 23 de junho de 2013

Para a Hora do Chá


Pátria

 Por um país de pedra e vento duro
 Por um país de luz perfeita e clara
 Pelo negro da terra e pelo branco do muro
 Pelos rostos de silêncio e de paciência
 Que a miséria longamente desenhou
 Rente aos ossos com toda a exatidão
 Dum longo relatório irrecusável

 E pelos rostos iguais ao sol e ao vento

 E pela limpidez das tão amadas
 Palavras sempre ditas com paixão
 Pela cor e pelo peso das palavras
 Pelo concreto silêncio limpo das palavras
 Donde se erguem as coisas nomeadas
 Pela nudez das palavras deslumbradas

— Pedra rio vento casa 
 Pranto dia canto alento 
 Espaço raiz e água 
 Ó minha pátria e meu centro

 Eu minha vida daria
 E vivo neste tormento

 Sophia de Mello Breyner Andresen

Nenhum comentário:

Postar um comentário