domingo, 28 de julho de 2013

Agosto bem a gosto, por Ruy Fabiano

Agosto, historicamente, é mês de tensões na política brasileira. A reabertura dos trabalhos legislativos, após o recesso de julho, traz, ainda que provisoriamente, a voz das bases ao discurso parlamentar. Este ano, nem mesmo chegou a haver recesso.

O clamor das ruas, que entrou em cena a partir de junho, não chegou a silenciar e a tensão precedeu – e seguramente sucederá - o recesso. Espera-se, por isso mesmo, um segundo semestre ainda mais movimentado que o primeiro.

O pacote de reformas políticas com que a presidente Dilma, meio de improviso, pretendeu dar alguma resposta às manifestações, não deverá pacificá-las. Até porque o público em nenhum momento pediu reformas políticas.

Pediu, isso sim – e continua pedindo -, reforma dos políticos, o que não parece estar no horizonte da maioria deles.

Prova disso é que, em meio aos protestos, que pediam, em síntese, fim da corrupção e melhor uso dos impostos, alguns personagens de proa, como o presidente da Câmara, Henrique Alves, o do Senado, Renan Calheiros, e o governador do Rio, Sérgio Cabral, foram flagrados abusando das prerrogativas do cargo.




Os três usaram aeronaves do Estado para fins particulares e se mostraram espantados com a indignação que provocaram. “A lei nos autoriza”, foi mais ou menos o que cada qual disse, sem a preocupação de avaliar o que Montesquieu há quase três séculos denominava de “espírito das leis”.

O público pode não ser – e não é – erudito, mas percebe o essencial. Sabe que o problema não é propriamente a falta de leis, mas de cumprimento das que há. É claro que a legislação política – sobretudo o sistema eleitoral e partidário – precisa melhorar.

O sistema distrital é mais representativo e reduz os gastos de campanha. As coligações nas eleições proporcionais permitem que candidatos com poucos votos peguem carona no excedente da votação de colegas, o que produz parlamentares biônicos. Etc.

Mas nenhuma mudança logrará seu objetivo se houver má fé. Tudo é burlável. E é justamente na má fé de muitos políticos que o povo aposta, quando vê com ceticismo as mudanças propostas.

Se a Constituinte é tão boa, por que só foi lembrada agora, uma década após o reinado do PT? E por que somente agora, com a manifestação das ruas, lembraram de consultar o povo por meio de plebiscito? E afinal para quê o plebiscito?

Para saber a modalidade de sistema distrital a ser adotado? O alemão, o francês, um à brasileira, nenhum deles? O povo percebe a embromação, o improviso, até porque é o que lhe resta diante de um Estado caro, desonesto e inoperante.

Desconfia quando vê o governo empenhado em mudar as regras do jogo às vésperas da campanha eleitoral. Por que não mudou antes? Não é coincidência que o queira fazer quando seus candidatos perdem competitividade.

A sucessão presidencial deve ocupar boa parte da pauta deste resto de ano, que começou com o PT seguro de que reelegeria Dilma Rousseff ainda no primeiro turno. Hoje, não sabe sequer se ela será candidata. Boa parte do partido prefere que não seja. Torce pela volta de Lula, que finge que não quer.

O PSDB não sabe se conseguirá catalisar a revolta das ruas. É previsível que não; seu discurso parece tão antigo quanto o do PT. Há os candidatos alternativos Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede de Sustentabilidade), empenhados em emular o novo, mas que até agora faturam com o silêncio. Quem fala pouco erra menos, é o que sugerem.

Correndo por fora, há ainda José Serra, cujas chances de entrar na disputa dependem de mudança de partido.

Fala-se que poderá deixar o PSDB e filiar-se ao PPS. Ou mesmo, a manter-se a debilidade da candidatura de Aécio Neves, disputar sua terceira eleição como tucano. Lula perdeu três antes de eleger-se pela primeira vez; François Mitterrand, na França, só se elegeu na quinta. Serra pergunta-se: “Por que não eu?” Só o eleitor poderá responder.

Em política, tudo é possível, menos, como disse Abraham Lincoln, enganar a todos todo o tempo, lição elementar e antiga, embora ainda estranha a grande parte dos políticos brasileiros. Coroando o semestre, temos a economia em baixa e a segunda parte do Mensalão. Agosto nuca esteve tão a gosto.

Ruy Fabiano é jornalista

Transcrito do Blog do Noblat de 27 de julho de 2013

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