sexta-feira, 26 de julho de 2013

Análise: papa questiona o rumo da política de pacificação do Rio

Discurso de Francisco em Manguinhos reforça críticas à política de segurança do governo Cabral

Marcelo Beraba - O Estado de S. Paulo
"Quero encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de "pacificação" será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma. Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza!". (Do discurso do papa Francisco nesta quinta-feira, 25, de manhã na favela Varginha, zona norte do Rio)
Em Varginha, uma das favelas de Manguinhos, na zona norte do Rio, o papa Francisco tocou em um dos pontos sensíveis da política de segurança implantada no governo Sérgio Cabral e conhecida como de pacificação. Este foi o termo cunhado pelo próprio governo para se diferenciar da política anterior, praticada nos governos Garotinho e no início da gestão Cabral, de invasão das favelas e de confronto generalizado.
A política de pacificação tem como seu principal pilar as Unidades de Polícia Pacificadora, UPPs. O sucesso inicial desta política projetou o seu mais importante artífice, o delegado José Maria Beltrame, da Polícia Federal, deu credibilidade ao governo Cabral, garantiu sua reeleição e a eleição e reeleição do prefeito do Rio, Eduardo Paes. Há dois pontos frágeis, no entanto, nesta política.
O primeiro, frequentemente cobrado pelo próprio Beltrame, é a lentidão na implantação dos programas sociais e econômicos que deveriam complementar as ocupações pela Polícia Militar das favelas antes dominadas pelo narcotráfico e por milícias. Sem estes programas de inclusão - e o papa Francisco mais de uma vez ressaltou nesta viagem a importância das políticas de combate às desigualdades -, só a ocupação policial não será suficiente para garantir, no futuro próximo, a paz nestas comunidades.
Marcelo Beraba, diretor da sucursal do Rio do jornal O Estado de S. Paulo, em coluna no Broadcast Político
Leia a íntegra no Estadão

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