quinta-feira, 18 de julho de 2013

Imagem do Brasil é ‘piada’ no exterior, por Antonio Brasil

Em meio à crise política e protestos de ruas persistentes, milhões continuam sendo gastos na construção de grandes estádios em nosso país. O principal objetivo desse investimento é garantir a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos para o Brasil. Mas um efeito colateral igualmente importante e desejável é melhorar a nossa imagem no exterior.

Quando esses megaeventos foram anunciados pelo governo brasileiro, a ideia parecia muito boa, lucrativa e popular. Na História, outros governos – como a Alemanha nazista – também apostaram muito na paixão do povo pelos esportes e na possível mudança da imagem internacional.

Depois de derrota humilhante em uma guerra mundial e em crise econômica profunda, o então novo governo alemão tentou convencer o mundo de que o país tinha mudado. Foram investidos milhões na promoção de uma grande celebração internacional, os Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim.

O tiro saiu pela culatra

A Alemanha teve que amargar a humilhação de grandes derrotas e o herói da competição foi o atleta negro norte-americano Jesse Owens. Ele contradisse todas as teorias políticas e raciais da Alemanha de Hitler. O grande investimento alemão não rendeu os lucros políticos desejados. Hitler e sua Olimpíada tornaram-se motivo de piada internacional. Dentre muitas, a melhor deve ser esta e creio que dispensa tradução:

­– What was Hitler’s reaction when Jesse Owens won 4 gold medals?

– He was fuhrer-ious! [Ver aqui]

Preconceitos

Hoje, o Brasil também investe milhões em uma Olimpíada e na mudança de sua imagem no exterior.

Estamos diante de um novo projeto político, social e econômico do governo brasileiro. Mas pensamos sempre grande e ainda maior do que outros tempos e países. Ao invés de se limitar a realizar jogos olímpicos, o Brasil decidiu sediar a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas.

Poucas vezes na História um país sequer imaginou ou tentou realizar esses dois megaeventos internacionais quase ao mesmo tempo. O risco do fracasso é enorme. E a possibilidade do Brasil se tornar motivo de piada, como no caso da Alemanha de Hitler em 1936, também é considerável.

E talvez essa ameaça já esteja se concretizando na mídia internacional.

Nos últimos dias, em meio a notícias de ainda mais violentos protestos de rua, duas matérias sobre o Brasil parecem confirmar as piores previsões sobre a nossa imagem no exterior.

A primeira foi a reportagem produzida pelo Colbert Report, um programa de sátiras muito popular da emissora de TV norte-americana Comedy Central, sobre as manifestações no Brasil [ver aqui]. De forma debochada, tendenciosa e humilhante, o apresentador do telejornal cômico, Stephen Colbert, ridiculariza os nossos megainvestimentos em estádios de futebol. Mas temos que reconhecer que a matéria é hilária e talvez até pertinente.

A imagem do Brasil no exterior, aquela coisa não muito clara, definível ou identificável que governos gastam milhões para manipular ou pelo menos influenciar, continua confirmando os piores estereótipos. Talvez seja inevitável ou talvez nós brasileiros façamos o possível e o impossível para confirmar essas imagens preconceituosas.

Leia a íntegra no Observatório da Imprensa de 16/7/2013


Antonio Brasil é jornalista, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, pesquisador do Grupo Interinstitucional de Pesquisas em Telejornalismo (GIPTELE) e autor do livro Telejornalismo Imaginário (Editora Insular). 

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