quinta-feira, 18 de julho de 2013

Para a Hora do Chá


O filho do século

Murilo Mendes

Nunca mais andarei de bicicleta
Nem conversarei no portão 
Com meninas de cabelos cacheados 
Adeus valsa "Danúbio Azul" 
Adeus tardes preguiçosas 
Adeus cheiros do mundo sambas 
Adeus puro amor 
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem 
Não tenho forças para gritar um grande grito 
Cairei no chão do século vinte 
Aguardem-me lá fora 
As multidões famintas justiceiras 
Sujeitos com gases venenosos 
É a hora das barricadas 
É a hora da fuzilamento, da raiva maior 
Os vivos pedem vingança 
Os mortos minerais vegetais pedem vingança 
É a hora do protesto geral 
É a hora dos vôos destruidores 
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos 
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos 
Misérias de todos os países uni-vos 
Fogem a galope os anjos-aviões 
Carregando o cálice da esperança 
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.

Murilo Mendes

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