sexta-feira, 19 de julho de 2013

Para a Hora do Chá


Surdina

Minha poesia é toda mansa. 
Não gesticulo, não me exalto... 
Meu tormento sem esperança 
tem o pudor de falar alto.

No entanto, de olhos sorridentes, 
assisto, pela vida em fora, 
à coroação dos eloqüentes. 
É natural: a voz sonora 
inflama as multidões contentes.

Eu, porém, sou da minoria. 
Ao ver as multidões contentes 
penso, quase sem ironia: 
"Abençoados os eloqüentes 
que vos dão toda essa alegria."

Para não ferir a lembrança 
minha poesia tem cuidados... 
E assim é tão mansa, tão mansa, 
que pousa em corações magoados 
como um beijo numa criança.

Ribeiro Couto

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