quarta-feira, 24 de julho de 2013

Para a Hora do Chá


Murilo Mendes

Murilo adentro,
metido a Murilo (não)
sinto-me compelido
ao trabalho literário.
Nem sempre,
pelo menos é o que digo
quase sempre.
Às vezes sofro,
sopro
como uma pequena ferida,
sua ausência
ardendo, vermelha e ácida,
ao toque do cuspe,
(um pouco de cuspe nessa chaga
modesta e incômoda).

Caminho.
clandestino,
e a contraluz tateio:
o suor me enfeita a testa.
Penso, não penso,
a camisa aperta a barriga, 
a desmesura.
Vivo assim manejando sempre
o verbo pedir.

De substrato católico,
torno a arder
quase sempre.
É assim.

Ora, direis, que papo é esse
ó cara, ó mano?
Nessa natureza morta
esses homens são subúrbios longínquos.
Sair, hoje?
Não.
Nem pensar.

José Almino

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